sábado, 12 de janeiro de 2013

O cinema e a audiodescrição!

Ao longo de toda a trajetória do cinema, filmes inesquecíveis deixaram
sua marca na vida de cada um de nós. Nos permitiram sonhar e aprender
com mundos
diferentes, com grandes histórias que podem ou não fazer parte do nosso
cotidiano. As lições que aprendemos com a magia da sétima arte abrem
nosso pensamento
e nos levam a enxergar o mundo de uma outra forma, facilitando nossa
compreensão acerca de nossas próprias vivências. Essas lições podem
estar em uma simples
fala ou gesto de um personagem, e é naquele momento que a compreensão da
mensagem transmitida pelo autor se torna essencial.

Vamos relembrar algumas cenas de filmes que marcaram a história do
cinema. Ainda que fora de contexto, esses exemplos podem ajudar a
esclarecer o que estamos
afirmando aqui.

No filme Diário de Um Adolescente (1995), Reggie (Ernie Hudson) coloca
Jim Carroll (Leonardo DiCaprio) em uma sala isolada para mantê-lo
afastado das drogas.
Para garantir a segurança de Jim e impedir sua fuga, Reggie dorme
sentado em uma cadeira junto à porta da sala. Durante a madrugada, Jim
acorda diversas
vezes, implorando a Reggie para deixá-lo sair. Reggie, já com expressão
cansada, permanece irredutível. Em A Vida é Bela (1997), que se passa em
meio à
Segunda Guerra, Guido (Roberto Benigni) esconde o filho e vai à procura
da esposa. É rendido por um soldado e, ao passar pelo esconderijo onde
havia deixado
seu filho, marcha fingindo brincar, para que o menino não se assuste com
a situação.

Em ambos os casos os diálogos são inexistentes. A compreensão dos
acontecimentos fica a cargo da imagem, dos ruídos e dos ambientes em que
se encontram
os personagens. Agora imaginemos essas cenas sem as imagens: o que
conseguiríamos depreender delas? Com certeza nossa imaginação iria em
busca de algo
que fizesse sentido, mas dificilmente chegaríamos perto do que pretende
o diretor. A audiodescrição se encarrega de transformar essas imagens em
palavras,
sem emitir qualquer opinião ou explicação das cenas. Descreve apenas as
ações dos personagens, os ambientes, as expressões. Assim, pessoas com
deficiência
visual também podem compreender e compartilhar desses ensinamentos,
criar suas próprias opiniões sobre os assuntos propostos e,
principalmente, desfrutar
plenamente dessa magia cinematográfica.

Como amantes incondicionais da sétima arte, sentimos que nosso direito
de aprender e desfrutar dela foi roubado quando assistimos cenas como
essas. Ainda
assim, sabemos que na maioria das vezes essas cenas são de extrema
importância para contar a história, são elas que enriquecem a obra.
Portanto, já que
a beleza da obra está nesses detalhes, para que uma pessoa cega também
possa se encantar e se emocionar, compreendendo o contexto da história,
é indispensável
o uso da audiodescrição.

Não estamos pedindo o Oscar da audiodescrição (ainda não), mas sim a
audiodescrição do Oscar, por exemplo. Uma festa recheada de glamour,
onde figurinos,
expressões dos participantes e cenários são, na maioria das vezes, ainda
mais importantes que a própria estatueta. Por essa razão, a grande festa
do cinema
mundial deveria ser transmitida com audiodescrição, o que aumentaria
ainda mais o nosso fascínio com o evento.

Acreditamos que seja perfeitamente possível que todo filme seja lançado
com este recurso, desde que seja encarado como parte da produção e do
orçamento
da obra. As grandes produtoras e os grandes diretores precisam entender
que existe outro público apaixonado pela sua arte, buscando consumir e
desfrutar
do melhor que o cinema pode oferecer. Um público que vem se tornando
cada vez mais crítico quanto à qualidade dos filmes, à interpretação dos
atores e
ao conteúdo abordado nas mais emocionantes histórias. E isso só se torna
possível porque alguns poucos abriram os olhos para esse novo mercado,
acreditando
na capacidade cultural e intelectual desse novo público. Todos nós
estamos ganhando muito com isso.

por Jefferson Campos Beck

FONTE:
Mil Palavras

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