quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Mercado para pessoas com deficiência ganha espaço !

Empresas começam a descobrir as vantagens de oferecer estrutura adequada para receber clientes com deficiência.

Adriana Lampert

Na hora de viajar pelo Brasil, turistas com deficiência ou com mobilidade reduzida – como cadeirantes, cegos, surdos, mudos, obesos, anões e até idosos,

crianças e gestantes – com frequência enfrentam problemas com a falta acessibilidade em estabelecimentos de hospedagem, ou do comércio e de serviços. Uma

lei federal (nº 5.296) chegou a ser decretada em 2004, estabelecendo um prazo de quatro anos para que estes setores adaptassem sua infraestrutura de forma

que todos os públicos, independentemente de sua condição física ou idade, fossem contemplados. Mesmo assim, a grande maioria das empresas do trade turístico

do País ainda não está preparada, pelo menos não totalmente, para este receptivo.

Muitas estão em fase de buscar formas de adequação, já que, mais do que uma ação de responsabilidade social, a iniciativa é obrigatória. É o que um grupo

de empreendedores da Serra gaúcha tem feito, com o apoio do projeto Sebrae 2014. Mobilizadas para atender às regras, que também serão cobradas pela Fifa

junto às hospedagens classificadas para o campeonato mundial, uma missão vai este mês ao município de Socorro (SP) para conhecer a estrutura dos hotéis-fazenda

Campos dos Sonhos e Parque dos Sonhos – ambos primeiros (e até agora únicos) estabelecimentos do País certificados pela Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT) em acessibilidade em edificações hoteleiras.

O proprietário dos dois empreendimentos - situados na divisa entre São Paulo e Minas Gerais -, José Fernandes Franco, afirma que tem palestrado em vários

municípios gaúchos. “O pessoal está interessado em cumprir a lei”, explica. Segundo ele, somente em São Paulo existem mais de cinco mil processos de pessoas

com deficiência em andamento contra estabelecimentos comerciais. “Se não tem rampa de acesso, por exemplo, pode-se fotografar, documentar e entregar ao

Ministério Público, solicitando uma ação de danos morais”, alerta.

Em Socorro, outros estabelecimentos estão dando um passo à frente na temática da acessibilidade. O diretor da Secretaria de Turismo e Cultura do município,

Carlos Tavares, relata que a cidade (que tem 37 mil habitantes) passou a receber 500 mil visitantes por ano desde que implementou o chamado Socorro Acessível,

viabilizado pelo Ministério do Turismo (Mtur), que, de 2007 a 2008, investiu R$ 1,73 milhão em obras de infraestrutura turística e qualificação profissional

no município. Ruas e calçadas foram estrategicamente adaptadas com rampas, mapas táteis e passagens de nível para que pessoas com deficiência ou mobilidade

reduzida fossem atendidas, contemplando diversos lugares que um turista utiliza, como bancos, restaurantes, hotéis e lojas.

O projeto abrange obras de acessibilidade em pontos turísticos como o Portal Colonial, Portal Lions, Mirante do Cristo, Horto Municipal e Centro Histórico,

além do treinamento de 200 pessoas, que, segundo Tavares, estão capacitadas para receber adequadamente este público. “Para garantir que todos cumpram a

lei federal, a prefeitura decretou uma lei municipal em que a empresa que não respeitar as regras de atendimento ficará sem renovação do alvará”, conta

o diretor de Turismo de Socorro. Não à toa, a cidade é referência nacional na questão da acessibilidade.

Público representa um novo filão
Dados do IBGE registraram em 2010 cerca de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, 16 milhões de idosos, quatro milhões de gestantes, oito

milhões de obesos mórbidos, quatro milhões de acidentados com dificuldades momentâneas de acessibilidade e 500 mil anões. Os números revelam que o investimento

em estrutura para atendimento a esses públicos não está atrelado apenas à inclusão social, mas atenderia a um novo mercado em potencial.

O proprietário dos hotéis-fazenda Parque dos Sonhos e Campos dos Sonhos, José Fernandes Franco, confirma a tese. “Desde 2008, quando passamos a operar
com
toda a parte física e as atividades adaptadas para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, nossa ocupação deu um salto de 60% para 92%. Em 2011,

mais de três mil deficientes participaram de atividades como cavalgadas, arvorismo e tirolesa”, orgulha-se Franco. Para reformar os dois empreendimentos,

ele desembolsou R$ 120 mil entre 2004 e 2007.

Na área de ecoturismo, o empresário implementou carrinhos de trilha que levam paraplégicos e tetraplégicos para o meio da mata. Para possibilitar a montaria,

adaptou um encosto e cinto de segurança na sela dos cavalos. Na área de turismo de aventura, opera com rafting, canoagem e boia-cross adaptados para descidas

seguras pelos rios. A tirolesa, com cadeirinhas confortáveis e com cintos de segurança, tem sido disputada também por quem não tem nenhuma deficiência

física. No arvorismo, os procedimentos para cegos, surdos, mudos e portadores de Síndrome de Down incluem a presença de monitores trabalhando junto aos

deficientes, com comunicação em libras ou audiodescrição, entre outros cuidados. Toda a equipe de funcionários dos dois hotéis foi treinada para isso.

“É uma satisfação observar pessoas com necessidades especiais que agora vencem desafios como a tirolesa e a cavalgada”, observa Franco. O local oferece

36 modelos de triciclos adaptados para todos os tipos de deficiência, inclusive com pedais de mão para paraplégicos.

Na parte de infraestrutura de serviços, as acomodações disponíveis nos hotéis-fazenda do empreendedor são adaptadas para diversos tipos de deficiências,

além de sistemas de corrimão, mapas táteis, placas em braille, pisos especiais com relevo para sinalização, rampas nos acessos, banheiros adaptados e telefones

para surdos (com chamada luminosa e programa de digitação que “vira voz” na recepção). Outra inovação destes estabelecimentos são os chalés com canis para

cães-guias de hóspedes cegos. “Com este produto, surgiu mais um nicho de mercado, pois agradou quem gosta de viajar com animais de estimação.” Franco afirma

que continua investindo. “Estamos substituindo agora todas as escadas por rampas, é mais prático para todo mundo, isso é a verdadeira acessibilidade.”


Estado foca no turismo acessível
No Rio Grande do Sul, o único hotel totalmente acessível para portadores de deficiência ou mobilidade reduzida é o Villa Bella, de Gramado. A consultora

de turismo Tânia Brizolla, com experiência de 22 anos em planejamento, desenvolvimento e promoção de destinos, chama atenção para o que considera uso transversal

de uma ferramenta. “O turismo acessível não é um segmento, pois os equipamentos têm o dever de atender a todo tipo de público”, pontua.

A consultora de turismo e a sócia Márcia Godinho estão assessorando a promoção do Salão de Acessibilidade, que será lançado durante o Festuris 2012, em

Gramado, de 22 a 25 de novembro. “O encontro deve contribuir para que, até 2014, estejamos preparados para receber os visitantes que virão para os grandes

eventos”, diz Tânia.
 fonte jornal do comercio

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